Resposta à Carta das mulheres Munduruku para o Brasil

Salvador Bahia, 08 de novembro de 2021

 

Caras mulheres Munduruku,


Li sua carta da I Assembleia de Mulheres Munduruku para nós, brasileiros, e me emocionei do início ao fim. Cada palavra ali escrita me atingiu de uma forma que não sei nomear. As emoções que surgiram em mim vão desde o desespero e o medo a um intenso questionamento do meu papel nisso tudo.

Não consigo nem sequer chegar a mensurar o tamanho de suas dores com tudo o que lhes acontece. Vocês estão resistindo desde seu nascimento por direitos básicos, pelo que lhes foi e lhes é tomado a preço de sangue dos seus. Isso dói. Me doeu muito ler e perceber que isso é uma marca constante em suas vidas. Contudo, a forma como mostraram sua força para enfrentar essa barbárie me deixou igualmente emocionada. A construção desta assembleia para continuar seu movimento de resistência, demonstra uma força admirável. Um importante movimento pelo que é de vocês, por suas vidas e vivências. Observo, todavia, que não haveria necessidade da articulação de um movimento se seus direitos e suas vidas fossem respeitados.

Queria lhes dizer que sinto muito por tudo isso. É lamentável e doloroso saber que vocês sofrem sem direito à terra que é de vocês e seguem sofrendo repressão por defenderem seus direitos, seus valores e suas crenças. É revoltante para mim, como uma pessoa que não faz parte de seus povos, verificar a forma cruel com a qual o Estado, a sociedade e o capital as tratam, desconsiderando suas vivências com seu território e desprezando as suas vidas. Imagino quais sentimentos vocês não devem ter diante do que vivenciam. Lamento que os ataques e as constantes lutas estejam entrelaçados às suas vidas e as suas vivências. Como pessoa preta, entendo o que é ser e ter um corpo descartável para a sociedade, talvez por compreender o lugar que a sociedade designou para mim, suas lutas me toquem de um modo muito intenso. 

Por tudo que lhes escrevi é que penso meu papel em suas lutas. Diante do que li e das emoções que o conteúdo de sua escrita me causou, tenho pensado em formas de contribuir para que vocês não precisem resistir sozinhas. Acredito que a mídia deveria ter um papel fundamental na difusão de seus movimentos de resistência e das suas vivências com suas terras, mas sei também que ela está à disposição do capital, não a nossa. No entanto, as redes sociais estão aí, e elas também têm um papel importante na divulgação de movimentos. Creio que já pensaram nisso, creio também que esse está longe de ser um grande passo de minha parte, porém é necessário começar de alguma forma. Esse país lhes pertence, cada centímetro quadrado e cúbico é seu, a sociedade precisa entender isso. Nosso papel como brasileiros não indígenas é o de lhes apoiar, de lutarmos juntos, de divulgar suas lutas, de eleger indígenas para cargos importantes a fim de mudar esse país e de cobrar do Estado a garantia de seus direitos.

Lhes escrevi de um lugar em que guardo sentimento de revolta, de empatia e de mudança. Lhes escrevi para lhes dizer que as admiro e as respeito, para lhes dizer que sei a importância do que fazem. Para que saibam que sei que vocês são importantes e donas deste país. Para lhes dizer que sua luta me marca emocional e politicamente. 


Admiro a força e a coragem com que enfrentam essa batalha. 


Vallerie Sabrinne

 

Essa carta foi uma resposta à carta das mulheres Munduruku, para acessá-la clique aqui:

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