Resposta à Carta de Graça Graúna para os Ancestrais

Salvador, 2021.


Querida Graça,


Chamo-te assim, de maneira carinhosa e emotiva, pois a sua carta “De Graça Graúna para os Ancestrais” me emocionou, e acredito que tudo que provoca bons sentimentos, se conecta conosco de maneira pessoal e significativa.

No dia em que é comemorado o “Dia Internacional dos Povos Indígenas”, você traz nessa carta relatos de luta e resistência do seu povo, que não é evidente apenas na história, mas está presente nos dias atuais.  Ademais, comenta  sobre os difíceis momentos que passamos com a pandemia de Covid-19 – tudo isso, conectando-se aos seus ancestrais, numa conversa sensível, que tem como marca fundamental a presença dos seus pais como guias a que se deve profundo respeito e admiração.

Assim, além da conversa com eles, mantendo os ensinamentos e conselhos dos seus pais como condutores para enfrentar os desafios, você apresenta escritos dos seus filhos, que também estão relacionados à ancestralidade, ao bem viver, ao convívio pleno com tudo e todos que nos rodeiam. A partir daí, pude notar o quanto o contato com as origens faz parte da vida dos povos indígenas, estando presente independente das gerações.

Quando vi você falar sobre as dificuldades dos povos indígenas no contexto pandêmico - em que a necessidade de trabalho e estudo não permitem fazer isolamento social como é recomendado, além do dificultoso acesso aos serviços - e da conversa com uma vizinha que ofende a maneira como você vive, senti tristeza.

 Não posso mensurar o que você passou -e ainda passa- pela reafirmação dos seus direitos (e dos povos indígenas): o da existência, do acesso às terras que foram usurpadas, da vida digna e de qualidade que deve ser respeitada por todos... Mas posso dizer que a sua carta me tocou. Para mim, é sempre significativo ver as falas de pessoas diferentes, e especialmente, dos povos indígenas, que me provocam diversas reflexões sobre um modo de viver que é completamente diferente do ocidental, branco e europeu – este último, como sabemos, tem afetado há séculos  a vivência no mundo, a exemplo do Brasil, de maneira usurpadora e violenta.

Por isso, só tenho a agradecer a você, querida Graça, por ter escrito essa carta que foi destinada aos indígenas, mas que ao chegar até mim, me fez ficar com os olhos marejados. A maneira sensível e cuidadosa com que você conversa com os seus pais, como você coloca a sabedoria/intuição como uns dos aspectos centrais na sua vida, a forma com que o seu espírito está em concordância com os seus ancestrais, através da resistência e coragem me deixaram maravilhada!

Sei que a luta dos povos indígenas – apesar de tantos anos- ainda não acabou; são reivindicações que praticamente não se alteram ao longo da história, pois o descompromisso da “sociedade brasileira”, que se manifesta na tentativa de ocultar os direitos do seu povo, é persistente. Tenho certeza de que vocês não deixarão de lutar, pois isso está relacionado às suas origens, aos séculos de resistência. A carta me deu a possibilidade de conhecer mais sobre os povos indígenas, ler sobre o que você tem a dizer sobre a ancestralidade. Essa escrita foi bastante pessoal, permeada de sentimentos e significados característicos, mas ao mesmo tempo, dialogou comigo pelo desassossego que você traz em relação à pandemia, à saudade daqueles que amamos, e também, quando fala da intuição, pois acredito nisso.

Para finalizar, tive a sensação de que você me trouxe uma memória que estava guardada, esquecida em algum lugar; um sentimento fraterno com a sua escrita e com todos os aspectos relacionados à sua vivência, à experiência, aos passeios na memória dos seus filhos- que também fazem parte da sua, e que se tornam a de seus pais...

Abraços fraternos - de uma pessoa que você não conhece, mas que aprendeu um pouco mais sobre você e os povos indígenas através da sua carta. Agradeço (mais uma vez) por sensibilizar, dialogar com alguns sentimentos e percepções de vida... Por trazer a tona o caminho de volta.

Isabela Costa Silva


Essa carta foi uma resposta à carta de Graça Graúna, para acessá-la clique aqui:

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