Resposta à Carta das mulheres Munduruku para o Brasil

Salvador Bahia, 08 de novembro de 2021

 

Caras mulheres Munduruku,


Li sua carta da I Assembleia de Mulheres Munduruku para nós, brasileiros, e me emocionei do início ao fim. Cada palavra ali escrita me atingiu de uma forma que não sei nomear. As emoções que surgiram em mim vão desde o desespero e o medo a um intenso questionamento do meu papel nisso tudo.

Não consigo nem sequer chegar a mensurar o tamanho de suas dores com tudo o que lhes acontece. Vocês estão resistindo desde seu nascimento por direitos básicos, pelo que lhes foi e lhes é tomado a preço de sangue dos seus. Isso dói. Me doeu muito ler e perceber que isso é uma marca constante em suas vidas. Contudo, a forma como mostraram sua força para enfrentar essa barbárie me deixou igualmente emocionada. A construção desta assembleia para continuar seu movimento de resistência, demonstra uma força admirável. Um importante movimento pelo que é de vocês, por suas vidas e vivências. Observo, todavia, que não haveria necessidade da articulação de um movimento se seus direitos e suas vidas fossem respeitados.

Queria lhes dizer que sinto muito por tudo isso. É lamentável e doloroso saber que vocês sofrem sem direito à terra que é de vocês e seguem sofrendo repressão por defenderem seus direitos, seus valores e suas crenças. É revoltante para mim, como uma pessoa que não faz parte de seus povos, verificar a forma cruel com a qual o Estado, a sociedade e o capital as tratam, desconsiderando suas vivências com seu território e desprezando as suas vidas. Imagino quais sentimentos vocês não devem ter diante do que vivenciam. Lamento que os ataques e as constantes lutas estejam entrelaçados às suas vidas e as suas vivências. Como pessoa preta, entendo o que é ser e ter um corpo descartável para a sociedade, talvez por compreender o lugar que a sociedade designou para mim, suas lutas me toquem de um modo muito intenso. 

Por tudo que lhes escrevi é que penso meu papel em suas lutas. Diante do que li e das emoções que o conteúdo de sua escrita me causou, tenho pensado em formas de contribuir para que vocês não precisem resistir sozinhas. Acredito que a mídia deveria ter um papel fundamental na difusão de seus movimentos de resistência e das suas vivências com suas terras, mas sei também que ela está à disposição do capital, não a nossa. No entanto, as redes sociais estão aí, e elas também têm um papel importante na divulgação de movimentos. Creio que já pensaram nisso, creio também que esse está longe de ser um grande passo de minha parte, porém é necessário começar de alguma forma. Esse país lhes pertence, cada centímetro quadrado e cúbico é seu, a sociedade precisa entender isso. Nosso papel como brasileiros não indígenas é o de lhes apoiar, de lutarmos juntos, de divulgar suas lutas, de eleger indígenas para cargos importantes a fim de mudar esse país e de cobrar do Estado a garantia de seus direitos.

Lhes escrevi de um lugar em que guardo sentimento de revolta, de empatia e de mudança. Lhes escrevi para lhes dizer que as admiro e as respeito, para lhes dizer que sei a importância do que fazem. Para que saibam que sei que vocês são importantes e donas deste país. Para lhes dizer que sua luta me marca emocional e politicamente. 


Admiro a força e a coragem com que enfrentam essa batalha. 


Vallerie Sabrinne

 

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Resposta à Carta Povos Apurinã e Aruak Baniwa para Jair Messias Bolsonaro

Salvador, 21 de Maio de 2021


Queridos povos Aruak Baniwa e Apurinã,


Tomei conhecimento da carta de vocês destinada ao nosso (des)governante Jair Messias Bolsonaro, e vim por meio desta prestar o meu total apoio. Desde o tempo da colonização que a voz do povo indígena é silenciada e contada por indivíduos que sequer chegaram perto de sentir suas dores, até mesmo pelos causadores de suas dores. Isso tem que acabar ! Vocês precisam ser escutados.

Demonstro total apoio a vocês porque sei da falta de preocupação e interesse do presidente da república com o seu povo, e também da comunidade a qual faço parte: preta, pobre e periférica. Para ele somos apenas números, não vidas. As suas terras, para ele são apenas mais uma forma de ganhar dinheiro e não importa pra ele o que terá de acontecer com as suas famílias, ou com o ecossistema e a natureza. Se for para fazer uso dela, ele será capaz de queimar e mandar matar.

Imagino o quão triste deve ser. De fora, sabemos do forte apego à ancestralidade que o seu povo tem e a sua relação sagrada com a terra. Mas em relação a isso, só vocês conseguem sentir a dor ao serem separadas delas. A democracia pregada por ele tem cor, classe social e gênero. Sem nenhum respeito às individualidades, procuro, cade a constituição que lhes garante proteção? 

Parece que todos que não tem um modo de vida capitalista estão atacando o governo. É realmente difícil viver assim, mas quero gostaria de dizer que admiro vocês. Admiro a resistência e a luta pelo que é importante e sagrado pra vocês, e juntos seguiremos resistindo a esse modelo de governo que preserva e incentiva esse tratamento desigual e que ataca os verdadeiros donos do território nacional. 


Toda minha admiração, força e apoio a vocês !


Amanda Fernandes.


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Resposta à Carta de Graça Graúna para os Ancestrais

Salvador, 2021.


Querida Graça,


Chamo-te assim, de maneira carinhosa e emotiva, pois a sua carta “De Graça Graúna para os Ancestrais” me emocionou, e acredito que tudo que provoca bons sentimentos, se conecta conosco de maneira pessoal e significativa.

No dia em que é comemorado o “Dia Internacional dos Povos Indígenas”, você traz nessa carta relatos de luta e resistência do seu povo, que não é evidente apenas na história, mas está presente nos dias atuais.  Ademais, comenta  sobre os difíceis momentos que passamos com a pandemia de Covid-19 – tudo isso, conectando-se aos seus ancestrais, numa conversa sensível, que tem como marca fundamental a presença dos seus pais como guias a que se deve profundo respeito e admiração.

Assim, além da conversa com eles, mantendo os ensinamentos e conselhos dos seus pais como condutores para enfrentar os desafios, você apresenta escritos dos seus filhos, que também estão relacionados à ancestralidade, ao bem viver, ao convívio pleno com tudo e todos que nos rodeiam. A partir daí, pude notar o quanto o contato com as origens faz parte da vida dos povos indígenas, estando presente independente das gerações.

Quando vi você falar sobre as dificuldades dos povos indígenas no contexto pandêmico - em que a necessidade de trabalho e estudo não permitem fazer isolamento social como é recomendado, além do dificultoso acesso aos serviços - e da conversa com uma vizinha que ofende a maneira como você vive, senti tristeza.

 Não posso mensurar o que você passou -e ainda passa- pela reafirmação dos seus direitos (e dos povos indígenas): o da existência, do acesso às terras que foram usurpadas, da vida digna e de qualidade que deve ser respeitada por todos... Mas posso dizer que a sua carta me tocou. Para mim, é sempre significativo ver as falas de pessoas diferentes, e especialmente, dos povos indígenas, que me provocam diversas reflexões sobre um modo de viver que é completamente diferente do ocidental, branco e europeu – este último, como sabemos, tem afetado há séculos  a vivência no mundo, a exemplo do Brasil, de maneira usurpadora e violenta.

Por isso, só tenho a agradecer a você, querida Graça, por ter escrito essa carta que foi destinada aos indígenas, mas que ao chegar até mim, me fez ficar com os olhos marejados. A maneira sensível e cuidadosa com que você conversa com os seus pais, como você coloca a sabedoria/intuição como uns dos aspectos centrais na sua vida, a forma com que o seu espírito está em concordância com os seus ancestrais, através da resistência e coragem me deixaram maravilhada!

Sei que a luta dos povos indígenas – apesar de tantos anos- ainda não acabou; são reivindicações que praticamente não se alteram ao longo da história, pois o descompromisso da “sociedade brasileira”, que se manifesta na tentativa de ocultar os direitos do seu povo, é persistente. Tenho certeza de que vocês não deixarão de lutar, pois isso está relacionado às suas origens, aos séculos de resistência. A carta me deu a possibilidade de conhecer mais sobre os povos indígenas, ler sobre o que você tem a dizer sobre a ancestralidade. Essa escrita foi bastante pessoal, permeada de sentimentos e significados característicos, mas ao mesmo tempo, dialogou comigo pelo desassossego que você traz em relação à pandemia, à saudade daqueles que amamos, e também, quando fala da intuição, pois acredito nisso.

Para finalizar, tive a sensação de que você me trouxe uma memória que estava guardada, esquecida em algum lugar; um sentimento fraterno com a sua escrita e com todos os aspectos relacionados à sua vivência, à experiência, aos passeios na memória dos seus filhos- que também fazem parte da sua, e que se tornam a de seus pais...

Abraços fraternos - de uma pessoa que você não conhece, mas que aprendeu um pouco mais sobre você e os povos indígenas através da sua carta. Agradeço (mais uma vez) por sensibilizar, dialogar com alguns sentimentos e percepções de vida... Por trazer a tona o caminho de volta.

Isabela Costa Silva


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Resposta à Carta Povos Aruak Baniwa e Apurinã para Jair Bolsonaro

 Nazaré – Ba, 20 de maio de 2021

Prezados,

Ler essa carta me trouxe angústia. É absurdo que vocês precisem lutar e pedir apoio para aquilo que deveria ser concedido por direito. Saúde, educação, proteção ambiental e de povos nativos e minorias deveriam ser a prioridade dos governantes. Infelizmente, vê-se o contrário em nosso país. É comum observar indivíduos que esvaziam os significados de uma cultura, banalizam o pertencimento, identidade, espiritualidade, proteção e força dos povos indígenas.

A situação torna-se ainda mais grave quando um desses indivíduos é o atual presidente, Jair Bolsonaro, que não hesita em espalhar desinformação e discursos de ódio à população. Não há o mínimo de esforço para que os direitos básicos sejam garantidos. Os ataques às terras e povos indígenas continuam. Recentemente, os Yanomami foram atacados por garimpeiros armados e os Munduruku estão ameaçados. Enquanto isso, o país se afunda em mais mortes pela Covid-19, que afeta principalmente as populações subalternas e marginalizadas. O desmatamento segue aumentando, mas para eles é só o dinheiro que importa.

Há uma urgência pela demarcação de terras, para garantir a segurança e a preservação. O governo finge que não vê. Não há nenhum tipo de mobilização para impedir o genocídio, a destruição. A morte e os discursos racistas foram normalizados por uma parte da sociedade.

Acredito que muitas pessoas têm medo e ódio de tudo que foge das perspectivas vazias que semeiam. A luta dos outros não importa desde que não as atinjam. E é triste ver como o individualismo foi normalizado, sobretudo pelo capitalismo. Uma sociedade que enriquece os que já são ricos, pauperiza os pobres, dizima culturas e etnias que sofrem desde a invasão do Brasil. 

Refletir sobre isso me lembra uma entrevista de Ailton Krenak para “Vozes Da Floresta – A Aliança dos Povos da Floresta de Chico Mendes a Nossos Dias”. A entrevista em si, é bastante enriquecedora, mas há uma parte específica referente ao pensamento coletivo da comunidade indígena e do sistema capitalista como predatório, excludente e racista, que se encaixam nessa análise. O viver para si, a “cultura do ‘eu’”, tão presentes na atualidade, possibilitam ações que excluem e dizimam uma parte enquanto favorecem outra, e impedem escolhas coletivas que visam o bem geral promovendo equidade.

Sinto que o individualismo nos tira a vida e nos condiciona à apenas existência. Pois a vida é coletiva e é esse pensamento em grupo que a movimenta. O olhar para o outro e ajudar como for possível na luta. Espero que em algum momento a sociedade possa mudar, embora isso pareça cada vez mais distante. Espero que nós não indígenas possamos sempre nos atentar para as intempéries cometidas contra os seus povos, para a necessidade de proteger e cuidar dos próximos, da natureza e de tudo que provém dela, de respeitar os deuses, as forças, culturas, tradições. Que nos posicionemos contra as práticas de opressão, pois o silêncio, nesses casos, é o mesmo que coadunar com o opressor.


Fernanda Nogueira dos Santos


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Resposta à Carta de Davi Kopenawa para a Procuradoria Geral da República

Mata de São João, 21 de Maio de 2021 

Querido Davi Kopenawa, 

Eu sinto muito. 

Eu genuinamente sinto muito. 

Pela violência que seu povo sofreu, pela invasão de seus corpos e seu território,  pelo desrespeito às suas tradições e ao seu luto. 

Os Estados Unidos da América e muitos dos seus pesquisadores são notadamente  conhecidos pela violação aos povos tradicionais e aos países ditos de terceiro  mundo. Usam nossos corpos, nossas terras e nossas plantas a seu bel prazer, em  prol de suas indústrias de capitalização e um sistema de banalização da morte.  

É enlouquecedor e revoltante. Não há outro sentimento a se ter.  

Mas eu espero que dentro da sua comunidade, na força da união do seu povo, vocês  estejam encontrando caminhos de cura para seus corações. 

Sabemos que a justiça divina se faz, mesmo que muitas vezes não sejamos  testemunhas dela. Mas disso não tenho dúvidas: o sangue de seus ancestrais será  honrado e a terra irá recebê-lo em louvação, para que retorne novamente ao todo e  se torne semente de vida. 

Te desejo calma e paz, por mais que a espera seja desconcertante. Que os teus  antigos se preencham de esperança e os mais novos amadureçam em consciência  pela defesa dos irmãos. 

Te desejo, especialmente, que nem mais uma gota do seu sangue se derrame em  vão. 

Pois que frio nenhum pode arrefecer a chama viva do rubro fluido de quem é vespa feroz, 

ser humano da fonte. 

Um abraço. 

Cura

Camila Machado


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De Davi Kopenawa para a Procuradoria Geral da República.


Resposta à Carta das mulheres indígenas de Brasília para o Brasil

Salvador-Bahia, 04 novembro de 2021. 

Para começar, espero que vocês estejam bem e com saúde. 

 Eu Andréia Nascimento de Lima, mulher negra, brasileira, veio por meio desta carta, dizer o quanto estou triste e revoltada por tudo que anda ocorrendo no Brasil, aliás por  tudo que vem acontecendo há anos. A falta de respeito, a desumanidade, a violência com  os povos indígenas e com a população negra do nosso país. 

 Por isso estou escrevendo esta carta para dizer que não desistam irmãs indígenas, eu  não irei deixar de continuar lutando pelos nossos direitos. Tal como afirma a líder  indígena Sônia Guajajara, apoiar a causa indígena hoje é lutar pela nossa própria  existência. Dessa forma, eu e vocês irmãs indígenas vamos continuar lutando contra essa  sociedade doente, machista, misógina, racista, que sem enxergar flerta com o fascismo e  cada vez mais destrói os direitos sociais e extermina nós mulheres. Infelizmente,estamos diante de um governo genocida, autoritário, inimigo da ciência e da educação, que tem  mirado na vida de nós mulheres sobretudo as indígenas, as negras e as periféricas. 

 Estão mirando na nossa dignidade, mas eu só peço que vocês sejam fortes,os brancos  que se acham donos de tudo, não podem calar nossas vozes. Irmãs, exterminaram muitos  dos nossos ancestrais, mataram e continuam exterminando nossos povos, porém a nossa  voz eles não vão silenciar. Continuaremos por nós, por todas nós: eles combinaram de  nos matar, nós combinamos de viver. Quero dizer também que estou aprendendo a ter  potência do corpo, cultivando a minha ancestralidade igual à vocês, porque vocês povos  indígenas sabem que as coisas estão dentro, não fora de nós.  

 Além disso, irmãs indígenas a cada dia que passa eu estou indo contra essa lógica  ridícula capitalista que diz que a vida tem que ser utilitária e consumista. Como cita o  escritor Ailton Krenak, a vida não é para ser útil, a vida é tão maravilhosa que a mente  das pessoas tenta dar uma utilidade para ela, mas a vida é fruição, a vida é uma dança.  Desse modo, nós temos que ter coragem de sermos radicalmente vivas/os e não  negociarmos nossa sobrevivência.  

 Ademais, quero agradecer por vocês protegerem e preservarem tão bem a mãe natureza, porque vocês sabem que ela é parte de nós e sem ela tampouco existiríamos. Mulheres indígenas do Brasil, sonho com o dia que nós possamos viver em paz, em uma  sociedade que respeite nossos corpos e nossa dignidade. Por fim, irmãs desejo muita

saúde e forças. Não vamos nos calar, as nossas vozes continuarão ecoando em todos os  cantos do Brasil, seremos resistência. 

Direitos humanos e Demarcação das terras indígenas já!!!! 

Queridas parentes recebam esta carta com amor e gratidão. 

Obrigada, a todas/es vocês! 

Atenciosamente, 

Andréia Nascimento de Lima 

Graduanda em Serviço Social 

Universidade Federal da Bahia


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Mulheres indígenas para Brasil.


Resposta à Carta das lideranças indígenas para os povos do planeta

17.11.2021

Carta resposta as lideranças indígenas

Olá parentes, venho por meio desta carta somar minha força e voz para dizer junto: A NOSSA TERRA NÃO PODE SER ROUBADA! Nossa mãe Terra clama por respeito e reparação histórica a tudo que os seres humanos vêm devastando durante séculos. Eu sinto a dor de vocês, minhas irmãs e irmãos, eu sinto a dor da nossa mãe Terra, eu ouço seu chamado e me somo nos rezos com o cachimbo sagrado pedindo forças e harmonia entre todos os seres desse planeta.

Estou na caminhada de retomada das minhas raízes indígenas, cavando cada vez mais fundo para honrar minhas antepassadas e lutar ao lado dos povos originários dessa terra Abya Ayala. Contem comigo parentes, posso ser só mais uma sobrevivente do genocídio do nosso povo, mas somando nossas forças somos como uma gigante floresta e nossa força é ancestral! 

Aproveito para lhes enviar uma poesia de minha autoria, escrita em novembro de 2016:


Identidade indígena


Minha identidade indígena que vivia adormecida: Acordou!

Acordei!

Sabendo que meus povos foram enganados

Violentados

Roubados

Mortos

Massacrados

Apagados da história desse país.

Me digo indígena

Me descubro indígena

sabendo que fui colonizada branca

educada como branca

enganada como branca

alienadamente branca que não sou!

Minha identidade indígena acorda sabendo que indígena foi o povo branco quem nomeou achando que pisavam na Índia.

Não pisaram lá, mas nos pisaram aqui

Colonizaram-nos, mas não somos suas colônias

Nossa identidade indígena

Brasileira

Guerreira

Em harmonia com a natureza

ainda respira dentro de nós

Nossas antepassadas nos fortalecem

fertilizam a terra

fluem nos rios e mares

purificam o ar

nos aquecem com o fogo

nos curam com as matas.

Nossa identidade indígena

em todos os elementos da natureza

em harmonia, em sincronia

se organiza na sociedade atual

buscando forças para viver.

Resistimos, estamos de pé

Sabemos do sagrado, do corpo, da mente

da alma, da natureza, do amor...

Nossa identidade indígena viva: Vive!

Sempre estivemos aqui!


Maura Tatiane Nascimento de Oliveira


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De lideranças indígenas para os povos do planeta.


Resposta à Carta de Graça Graúna para os Ancestrais

10 de novembro de 2021

De André Souza para Graça Graúna       

Graça, muchas gracias por suas palavras! As dessa carta e as outras já escritas. E também as novas - espero que sejam muitas! - que virão como rios a me inundar de graça! Tenho aprendido muito com você. De outra forma, tenho começado a me  olhar, a olhar o Brasil, a olhar o mundo. A literatura indígena semeia novos mundos possíveis nesse território de ideias superficialmente homogêneo. Além disso, ela também guarda e amplifica o que nunca deve ser esquecido.   

Para muitos brasileiros, a vida nunca foi fácil. Mas há um tempo, como bem sabemos, as coisas pioraram muito. São “tempos [duplamente] obscuros”. Mudanças abruptas nos foram impostas. Mas penso que não serão essas máscaras que esconderão a verdade. Ela está aí e sempre tensiona em aparecer. Nessa canoa que é a literatura indígena, e da qual suas palavras são excelentes representações, sigo em busca de aprendizado. A paciência, agora, parece ser uma dádiva. Sempre no a mais, sempre no a mais. Acompanhando, a esperança também segue.

Desejo que seus ditos encontrem os destinatários almejados e outros. Muitos outros! E ressonância. Muita também! Pois sei aqui comigo que todos precisam desse acalento, dessa tocha capaz de guiar na escuridão ou no mar de incertezas.     

Singelamente, Graça,  faço uso das suas palavras como despedida, pois são os sonhos que nos movem:   

Apesar dos pesares,   
resta-nos sonhar    
a Mãe Terra nos anima.”.   

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Resposta à Carta de Denilson Baniwa para o parente que vive na Terra Indígena Marte

 Entre Rios, Bahia, 17 de novembro de 2021.

A resposta de uma não-indígena que é da Mesopotâmia, não de Marte.

Querido Denilson Baniwa, 

Li a carta para o seu parente em Marte e espero que ela tenha chegado ao planeta vermelho. Aqui, entre os rios Inhambupe e Subaúma realmente tivemos um dia chuvoso, como você desejou que fosse nessa outra parte do sistema solar. Não uma chuva com tempestades que levam casas e esperanças, mas sim gotas que caem numa resposta às preces do povo do agreste baiano, que pedem, suplicando a mãe-terra, água-alimento. Uma chuva acalentadora que revigora as energias e a fé. Tenho certeza que a Terra sabe do que a gente precisa.

Recentemente descobri que na feira, quando chove, não tem semente de coentro verde, porque coentro é sensível à água. Não sei se tem chuva em Marte, tampouco coentro, mas com certeza tem sensibilidade. Penso que a gente pode chamar de sensível tudo aquilo que sente. Quem quer que habite lá, sente. Poeira, pedra ou gente. Serei sincera com você, numa intimidade de quem com um só pilão amassa junto o coentro em semente para o preparo da refeição, no exato instante em que o aroma invade nossos poros e se faz irremediavelmente presente: não queria que existisse TV, e Largados e Pelados, e apocalipses, e milionários. Parece que eles são como alimentos cheios de toxinas para essa fera de consumo que habita em mim e em pessoas não-indígenas. 

Sabe, meu avô Tonho planta feijão na roça e não precisa de nada disso. Não precisou de TV para aprender a plantar, de um programa para dizer-lhe como debulhar o grão, de fim de mundo para adianta-lo em vida ou de milionário para precarizar o seu viver. Da última vez em que estive na sua casa, sentado no chão com as pernas dobradas e os pés cheios de barro, ele separava o feijão verde recém-colhido e enfiava todos os grãos num saco branco de náilon, com a habilidade que só tem quem já repetiu aquilo muitas vezes. Os pés descalços do meu avô contam que o essencial à vida é a terra.

Não sei se os cientistas da NASA sequer sabem o que é feijão verde, semente de coentro, feira, sensibilidade ou pés no chão, já que parecem se importar apenas em conjugar verbos como dominar, ocupar e explorar. Vez ou outra, essas mesmas pessoas inventam palavras como sustentabilidade, desenvolvimento e progresso, que de nada servem além de reafirmar o seu ddd: destruição, devastação e descaso. 

E, já que estamos tendo uma conversa franca, espero que a Discagem Direta à Distância de quem acha válido sair por aí invadindo e explorando territórios nunca alcance Marte e seus povos originários, que certamente não tem TV, Largados e Pelados, e milionários. Estes que só terão apocalipse se os não-indígenas chegarem lá. 


Com a força de quem sente o chão com os pés descalços,

Te vejo daqui.

NATÁLIA SIMÕES LIMA.



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De Denilson Baniwa para o parente que vive na Terra Indígena Marte.

Resposta à Carta do povo Munduruku para o Brasil

 Lauro de Freitas, 07 de novembro de 2021

Ao povo Munduruku,

Inicialmente deixo claro que faço parte dos milhares e milhares de brasileiros que pouco sabe sobre seu povo, seus hábitos e sua cultura. O pouco que conheço vem sendo construído e difundido ainda sob a perspectiva de uma ideologia histórica dominante, assim, obviamente não condiz com a sua verdade. Sinceramente não sei como lhes confortar ou indicar meios para amenizar as suas dores diante dos horrores vividos por sua gente. Imagino que tenha sido ainda mais aterrador pois a violência aconteceu diante dos olhos de quem deveria protegê-los.

Infelizmente nos tornamos reféns do descaso das autoridades e da violência, a barbárie é banalizada, no máximo gera sensacionalismo e por fim como tudo cai no esquecimento. Não se trata de conformismo, mas enfim, o que fazer? Esta nação nasceu imersa no caos e na injustiça. Por fim, peço desculpas por minha ignorância sobre as suas causas e ainda mais por minha inércia. Também quero expressar meu desejo sincero de que um dia algo mude para vocês e para todos nós.


Atenciosamente,

Rosanna Melo.




Essa carta foi uma resposta às cartas dos munduruku, para acessá-las clique aqui:

Munduruku | As Cartas dos Povos Indígenas ao Brasil (cartasindigenasaobrasil.com.br)