Perfis biográficos de indígenas através da leitura de suas cartas.


Há, no site https://cartasindigenasaobrasil.com.br/, uma página destinada à junção de biografias sobre indígenas que escreveram cartas presentes no acervo do site, atualmente a aba conta com 20 biografias de diferentes remetentes, mas seu acervo se extenderá no futuro. Junto ao texto que relata um pouco das histórias, cartas que escreveram e atuações políticas dos remetentes, são também estampados seus rostos, formando uma espécie de galeria desses escritores que reivindicam e lutam pelos direitos dos seus povos e dos povos indígenas do Brasil.

O trabalho de escrita de biografias é parte fundamental do  projeto As Cartas dos Povos Indígenas ao Brasil e para a disseminação de conhecimentos acerca da atuação política dos povos indígenas, tendo em vista que ao ler as biografias, o olhar dos leitores e pesquisadores se direcionam aos remetentes das cartas, e a partir disso é possível não apenas ouvir a história do Brasil pelas perspectivas indígenas, mas também perceber como a escrita das cartas é, em diversos sentidos, uma autobiografia.

Até o presente momento, o acervo conta com perfis biográficos de Davi Kopenawa, Eloy Terena, Benki Piyãko, Gersem Baniwa, Nailton Pataxó, Azelene Kaingang, Graça Graúna, Jaider Esbell, Denilson Baniwa, Yakuy Tupinambá, Anápuáka Pataxó Hã Hã Hãe, Sônia Guajajara, Marcos Terena, Graciliana Wakanã, Maria Amaral, Ailton Krenak, Florêncio Vaz, Agnaldo Xukuru, Jairo Munduruku e Gabriel Gentil. O trabalho de escrita das biografias envolveu uma seleção dos remetentes das cartas e uma pesquisa sobre a vida  dos biografados. Ressalto, ainda, que a escrita de biografias que se baseia fortemente nas reflexões e reivindicações dos próprios escritores em suas cartas, o que apresenta uma perspectiva interessante nas reflexões sobre a relação entre o biográfico e a narrativa histórica, como pensado por Arfuch (2010), e como o biográfico e o autobiográfico podem apresentar essas narrativas (Costa, 2014).

Portanto, pensar biografias a partir do que os indígenas escrevem  é um exercício de inversão que estampa com rostos e histórias o que entende-se como espaço biográfico (ARFUCH, 2010). Como bolsista vinculada ao projeto, desenvolverei em parceria com os demais pesquisadores do Núcleo de estudos das produções autorais dos povos indígenas, os perfis de Damião Paridzané, Aruã Pataxó, Adenilton Tuxá, Raoni Metuktire, Álvaro Tukano, Pretinha Truká, Dário Vitório Kopenawa Yanomami e Joenia Wapichana, que escreveram cartas durante o período 1999 até 2020 com o objetivo de selecionar, a partir do acervo de cartas já existente, os remetentes para realizar um estudo biográfico, que consiste em escrever biografias sobre esses indígenas a partir da pesquisa de suas vidas e seus feitos, e, além disso, discutir e pensar a maneira como o lugar de remetente se apresenta nas cartas escritas por indígenas, e como a escrita individual e a escrita coletiva por muitas vezes cruzam caminhos, investigando o conceito de autoria nessas correspondências.



REFERÊNCIAS 


ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Tradução: Paloma Vidal. - Rio de Janeiro. EdUERJ, 2010.


COSTA, Suzane Lima. POVOS INDÍGENAS E SUAS NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS. Estudos Linguísticos e Literários, Salvador, 2014. Disponível em: https://cartasindigenasaobrasil.com.br/wp-content/uploads/2021/07/POVOS-INDIGENAS-E-SUAS-NARRATIVAS-AUTOBIOGRAFICAS.pdf. Acesso em: 1 jun. 2022.



Texto de: Beatriz Rodrigues



Postagens Relacionadas:

Nenhum comentário:

Postar um comentário