De Davi Kopenawa ao Brasil

Demini, 11 de novembro de 2002¹.


Caros Procuradores²,


Nós Yanomami queremos mandar esta carta para vocês porque estamos tristes com o sangue de nossos parentes mortos que está nas geladeiras nos Estados Unidos³.

Olha, falei com meu povo yanomami de Toototobi onde os americanos tiraram o sangue. Os velhos falaram que estão com raiva porque esse sangue dos mortos está guardado por gente de longe.

Nosso costume é chorar os mortos, queimar corpos e destruir tudo que usaram e plantaram. Não pode sobrar nada, se não o povo fica com raiva e o pensamento não fica tranquilo. Os americanos, esses, não respeitam nosso costume, por isso queremos de volta nossos vidros de sangue e tudo que tiraram do nosso sangue para estudar.

Precisamos ajuda de vocês para conversar com os americanos que têm nosso sangue para eles devolverem.


Obrigado, um grande abraço.

Davi Kopenawa Yanomami



¹ Aldeia Yanomami Demini, localizada na terra indígena Yanomami, Amazônia Legal – Brasil. Disponível em: <http://amazoniareal.com.br/laboratorios-dos-estados-unidos-devolvem-amostras-de-sangue-ao-povo-yanomami/>. Acesso em: 5 abr. 2021.
² Desde 2003 o Ministério Público Federal estruturou a câmara temática populações indígenas e
comunidades tradicionais (6ª Câmara de Coordenação e Revisão), que trata especificamente dos temas
relacionados aos grupos que têm em comum um modo de vida tradicional distinto da sociedade nacional
majoritária, como, indígenas, quilombolas, comunidades extrativistas, comunidades ribeirinhas e ciganos.
Disponíveis em: <http://www.mpf.mp.br/conheca-o-mpf/sobre/sobre-a-instituicao>;
<http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/ccr6>. Acesso em: 2 ago. 2016.
³ Entre 1960 e 1970, o antropólogo Napoleon Chagnon e o geneticista James Neel coletaram amostras sanguíneas dos Yanomami sem a autorização do povo, levando o material para ser analisado na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos da América. O material permaneceu sob a guarda da Universidade por mais de 40 anos.

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