Brasil, Aldeia Brejinho, Povo Pankará, 10 de julho de 2005.
(...) não bastava prender Dena, pois um dia ele iria voltar e continuaria seu trabalho
junto a sua comunidade. Dena tinha que desaparecer do seu povo definitivamente. E
assim se deu o plano para ceifar a vida de um grande guerreiro que tanto lutou pela
dignidade de seu povo (...)
Comissão de Professores Indígenas em Pernambuco – COPIPE”
Neste trecho da carta escrita pela Comissão de professores indígenas de Pernambuco (COPIPE), datada no ano de 2005, vê-se, nas entrelinhas, mais lágrimas indígenas sendo derramadas sobre as terras que cobrem os corpos de seus inúmeros mortos.
Desta vez a perda foi dupla, eles choram a morte de um dos seus guerreiros mais valentes e líderes mais ativos, Adenilson dos Santos , conhecido intimamente como “Dena”. Ele, Adenilson, foi alvejado a tiros, juntamente com seu filho, Jorge Vieira, de 16 anos, durante uma festividade.
A carta foi grafada durante o XIII “encontrão” da Copipe. Evento que reuniu diversos indivíduos indígenas, mas também não indígenas que se interessam pela causa indígena, pela educação ou pela intersecção das duas pautas.
A Copipe - bastante citada acima - trata-se de uma organização indígena formada por professores, alunos e entre outros filhos dos 12 povos indígenas de Pernambuco (Atikum, Fulni-ô, Kambiwá, Kapinawa, Pankaiuká, Pankararu, Pankará, Pipipã, Potiguara, Truká, Tuxá e Xukuru), que desde 1999 vem lutando, em meio às adversidades sociais, institucionais e políticas, por uma educação escolar indígena específica, decolonial, diferenciada, intercultural e de qualidade para os povos originários de Pernambuco e, consequentemente, do Brasil.
O evento onde esta carta foi escrita aconteceu em terras Pankará, como visto no cabeçalho da carta.
O povo Pankará habita, atualmente, uma porção territorial da Serra do Arapuá, localidade do sertão semiárido de Pernambuco. Eles dividem, meio a brigas, restrições de direitos e interferências do poder público, territórios com agricultores, na sua maior parte não-índios. É muito importante salientar que essa habitação é filha de resistências ideológicas e cosmológicas deste povo que sofre o usurpo de suas terras e consequentemente de suas existências. A recuperação territorial está amalgamada com as suas tradições espirituais, os Terreiros, Gentios e Reinados. Foi através da prática que eles iniciaram a retomada territorial, e atualmente com certeza, isso é um fator de ajuda.
Retornando a Copipe, veremos que “Educação é um direito, mas tem que ser do nosso jeito” e “Escola formadora de guerreiros e guerreiras” são as duas máximas fundamentadoras dos preceitos desta organização que ,atualmente, em 2021, mais especificamente em novembro, chegará no seu vigésimo segundo aniversário.
Durante sua trajetória, a Copipe, além de moldar uma educação escolar que contemple o bem viver indígena, transforma sua força de trabalho, advinda da união de professores e alunos indígenas, em um espaço de fomento às discussões inerentes às questões territoriais, políticas e sociais que rodeiam as comunidades indígenas de Pernambuco. Mostrando e afirmando que a educação e o espaço educacional são pontos essenciais na constituição de qualquer sociedade.
Logo, pode-se afirmar que ela vem fazendo-se um lugar que necessita de preservação e de atenção tanto da parte daquele que é indígena, quanto dos não indígenas. Pois, apoiar e favorecer a integridade de organizações como esta é ampliar a possibilidade de vivência da cultura e existência dos povos originários, o que deve urgentemente acontecer nas vivências dos brasileiros, pois assim será possível evitar ou amenizar episódios como o dos assassinatos dos indígenas Tuka e Jorge Vieira ( acontecimento citado no trecho que inicia esse texto).
Para saber mais sobre a Copipe e sobre os Pankará acesse:
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